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A origem da Avenida Miguel Sutil - Perimetral

by - sexta-feira, março 06, 2020


Trabalhava na Prefeitura Municipal de Cuiabá, na direção do Departamento de Obras e Urbanismo, na administração do prefeito Frederico Carlos Soares Campos.
Logo no início, preocupei-me com a situação da cidade frente ao crescente problema no trânsito com carga pesada dos caminhões sobre o velho calçamento a paralelepípedos.
Descrevi em 2003 toda minha preocupação, na revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, volume 61, no artigo, cujo título é: “Cuiabá precisava de ajuda”. Este texto encontra-se na página 12, 13 e 14 da referida revista, o qual transcrevo aqui.

EXAMINANDO
Estava ali uma oportunidade de oferecer a minha cidade os conhecimentos que havia adquirido na Universidade. Buscava rever meus apontamentos de aula, recordando as palavras dos mestres do Urbanismo. Cuiabá, eu já sabia, é uma cidade de formação radiocêntrica. O Plano de Urbanização da Coimbra Bueno existente atendia a essa estrutura, todavia, estava relegada a segundo plano, desconsiderado pelos curiosos que desprezando-o caminhavam dentro de interesses particulares. Este plano tinha tudo para dar certo, dando à cidade uma apresentação melhor, afastando os problemas futuros. Naturalmente, muitos destes já os teríamos contornados ou solucionados, se fosse obedecido o seu encaminhamento.
Era precária a situação das vias centrais com o trânsito cada vez crescente dos automóveis. Caminhões de carga pesada trafegavam pelas antigas vias da cidade calçadas com paralelepípedos, desmantelando-os constantemente, porque não possuíam, perfeitamente esta forma geométrica. A tonelagem daqueles veículos, cada vez maior, condenava o futuro das nossas vias históricas que não foram preparadas para eles. Era urgente uma providência para retirar dessas vias estes veículos. Qualquer urbanista saberia diagnosticar aquela situação gravíssima pela qual atravessava nossa cidade. Não havia tempo a perder com projeto demorado. Não havia um órgão de planejamento e cabia ao meu departamento providenciar um plano de ação. Graças a Deus, consentiu o secretário, aceitar as despesas de aluguel de um trator do Fomento agrícola da Produção para trabalhar para nossa secretaria.

PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS
Parti com um estudo esquematizado para a periferia da cidade com meu motorista Pedro Cunha Faria, levando o topógrafo Lucilo Libânio pra reconhecimentos preliminares. Até fora do horário de expediente lá ficávamos embrenhados no mato, buscando a melhor passagem para os caminhões pesados. Considerando todos os “senões” com as propriedades dos terrenos, implantávamos nossa futura avenida de contornos da cidade, o anel viário. Procurei ajustar nas plantas dos velhos loteamentos a passagem desta importante pista, sabendo que assim justificando, certamente, meu procedimento não encontraria muita oposição. Porém, em muitos trechos encontrei incompreensão.
Muito tive que falar, embora isso fosse um grande sacrifício para mim que não tenho esse dom, lamentavelmente. Contudo, acertei com muitos proprietários esta passagem; apenas pediam em troca, muito justo, o fechamento das laterais da pista com cerca de arame, por causa do gado, às vezes. Ninguém entendia bem o que estava fazendo aquele trator rompendo o mato. O próprio Prefeito Frederico Campos não tinha, no início, conhecimento do que eu fazia. Eu receava que ele não deixasse prosseguir, e seu diálogo era diretamente com o secretário London e não comigo, diretor de departamento, pela ordem hierárquica.
Esta era uma obra de urgência e, mal rabiscava um esboço do traçado, saía com meus auxiliares para prolongar a futura via, com aquiescência do nosso Secretário de Obras Municipais, João Bosco London.

A TRISTEZA
Confesso que, quando, pela primeira vez levamos o prefeito para ver o avanço do trecho já implantado, voltei muito triste, pois, não obtive dele palavras de incentivo; muito pelo contrário, embora estivesse todo rasgado o mato, aberto pelo trator, ele expressava seu pensamento condenando aquele local, propondo mudanças...
Eu tinha em mente apenas completar aquele traçado necessário e urgente. Naquele caminhar da máquina contornando a cidade, fui apoiado por pessoas importantes, compreensivas, progressistas, como os senhores Avelino Tavares, João da Costa Pereira, Leventi, Taqueo Sano, Comandante do 16° BC da época e muito outros.
Alguns fatos ficaram gravados na minha lembrança na definição da avenida perimetral. Um deles foi a incredulidade inicial do engenheiro senhor João da Costa Pereira. Ele achava que eu estava sonhando e, se fosse mesmo para abrir a avenida em suas terras (o “bufante”), disse ele, que passasse em qualquer lugar. No outro dia, para seu espanto, o trator roncou em suas terras; pois, estivera antes nas terras do seu vizinho.
Outro fato aconteceu quando explorava uma posição mais correta para passar no terreno do exército - estante de tiro Mãe Bonifácia. Nosso topógrafo, um outro, não o Lucilo, fora recolhido ao quartel por praças que guardavam o local. Com explicações convincentes nossas ao comandante, no quartel, ele foi solto. A compreensão do coronel fora tamanha que até me forneceu a planta do terreno para eu lançar o traçado. Por causa da topografia, parte desta área ficara do outro lado da avenida e o batalhão assinalou-a com uma placa branca.
Cabe lembrar aqui a prestimosa colaboração do senhor Avelino Tavares, proprietário de vários loteamentos em Cuiabá. Apesar de mutilar seus primitivos traçados, ele deu toda cobertura ao meu traçado da avenida, e comigo, nas visitas, ajudava a convencer os outros vizinhos seus para facilitarem minha realização.
Cheguei a contornar a cidade, desde o bairro do areal até a Ponte Nova. Certa vez, um fato incomodou-me muito. Uns engenheiros do DNER apareceram à Prefeitura e com eles saíamos para que vissem o que eu tinha feito. Não sei porque, tinham em mente apenas modificar a posição da avenida já aberta. Com uma pequena fotografia aérea da cidade, esses técnicos concluíam que lhes era bastante aquela foto para conhecerem a região. E decidirem uma mudança?! Eu tinha quase certeza de que tudo aquilo era manobra para atrapalhar a realização da nossa avenida.
Buscavam-se maiores recursos para concluí-la. Por isso tive que preparar o projeto completo da avenida para poder apresentá-lo ao Governo Federal, através dos ilustres representantes de Mato Grosso, como Senador Filinto Müller. Preparei o projeto em companhia do engenheiro João Bosco London, com levantamento topográfico do senhor Renzo Michelotto. Para minha justificativa, ainda me lembro, inventei umas ruas fictícias nas áreas que não tínhamos no mapa, arruamentos desenhados atingindo a avenida. Desenhei esse mapa até alta madrugada para o Prefeito levar no dia seguinte para o Rio de Janeiro. Era necessário este artifício, pois, não podíamos esperar um levantamento preciso com ajustes verdadeiros no campo.

A ESPERANÇA E O CHOQUE
Muitos acertos foram feitos com o engenheiro chefe do 11ª DRF do DNER em Cuiabá, Dr. Luiz de Sousa Lima, que tinha outra visão de interesse para nossa Capital.
Certo dia, para surpresa nossa, o Governador Pedro Pedrossian anunciou a realização da avenida perimetral através do DERMAT. Todos nossos preparativos municipais, sob recomendação do engenheiro Sousa Lima, foram por água abaixo, pois o Governador não dava atenção ao DNER, nem mesmo ao nosso Prefeito Frederico, por capricho político. Firmava em quarenta metros a faixa de domínio da avenida, fugindo dos padrões do DNER. Nosso projeto original foi parar no DERMAT e lá desapareceu.
As obras da avenida chegaram a ser iniciadas, mas foram interrompidas antes de sua pavimentação. Ficou paralisada por sete longos anos. Mesmo assim, pude ver solucionado aquele problema do tráfego de passagem. Levantando poeirão, aqueles caminhões pesados deixaram de passar pelo centro histórico de Cuiabá. Queixavam muito os caminhoneiros, mas os caminhões não destruíam mais nossas vias centrais.

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